I – A procura por uma percepção
objectiva da realidade tem como mastro principal um vasto estudo da história da
humanidade. É pela via da sua análise que adquirimos conhecimento da origem das
nossas crenças, e da realidade social antes da sua existência. É por via da
história que tomamos a percepção de que as nossas crenças foram criadas no âmago
do mundo social, muitas vezes ao acaso, outras vezes com uma certa finalidade.
E é esta percepção de “criação” que nos permite ir interiorizando a ideia de
que certa crença que nos foi transmitida pela envolvente social (família,
escola ou esfera pública em geral), e que sempre tomámos como transcendente e
dogma, não é, na verdade, elemento da realidade.
Em suma, pretendo transmitir a ideia de
que é a história que nos permite alcançar a nossa independência, a nossa
autonomia intelectual. Sem ela somos mero fruto da sociedade, e somo-lo
inconscientemente. Com ela somos fruto da natureza, e integramo-nos, por
vontade, na sociedade.
No
âmbito deste intróito relativo à importância da história, irei apresentar neste
blog alguns livros que me fizeram
companhia. Infelizmente, as regras da sociedade impõem um conjunto de obrigações
sociais susceptíveis de ocupar quase dois terços do dia, pelo que a leitura é
vagarosa.
II – Começo pelo livro Salazar, de Filipe Ribeiro de Menezes.
Seguramente a segunda melhor leitura a que já procedi, só não ultrapassando César, de Adrian Goldsworthy.
Não obstante a obra de qualidade
magnífica, uma crítica ao texto é a de, por vezes, faltar algum enquadramento
histórico directamente (mas não indirectamente) alheio à personalidade objecto
do texto, como por exemplo a exposição dos factos da vitória final de Franco
(passa-se directamente da guerra civil em acção para Franco no poder) ou das
razões e acções para efectivar o bloqueio continental da Coroa Britânica. Em boa
verdade, é compreensível a razão de o autor não proceder a essas exposições:
está em causa uma biografia, e não a exposição histórica de um certo período da
história da humanidade. Mas se isto é verdade, e é, há igualmente a considerar
que está em causa uma biografia política (como se afere pelo facto de terem sido
dedicadas as primeiras 50 páginas à vida pessoal de Salazar, e as restantes 600
à sua carreira política). Pelo seu carácter político, as biografias neste
género devem, no meu entender, proceder a um vasto enquadramento da política da
época do biografado. Outro argumento contra esta minha opinião poderá ser a de
que tal exposição tornaria o livro demasiadamente extenso, e, consequentemente,
com maior custo financeiro; o que é verdade. Mas pode-se perguntar: deverá o
rigor ceder lugar?
Um segundo aspecto que gostaria de salientar é referente às letras
vermelhas onde se lê Salazar. O
vermelho encontra-se socialmente conotado com sangue, guerra, autoritarismo,
totalitarismo e repressão, seja política ou social. Assim, é tentador abrir a
possibilidade de se estar perante a exploração, com fins económicos
(possibilitar maiores vendas), da ideia social de Salazar como autoritário,
ditador e repressor. Com Salazar a
vermelho, o livro aparenta, conscientemente, apadrinhar a imagem socialmente negativa
de Salazar que actualmente vigora. Por outro lado, também é possível considerar
que a escolha da cor vermelha pode dever-se, muito simplesmente, a razões
estéticas: é já antiga a aceitação da sua harmonia com a cor preta. Eis então
uma questão à qual não me atrevo a tomar posição. Quem sabe a razão da escolha?
Em terceiro lugar, concedo-me a possibilidade de proceder a mais uma divagação.
Este livro custa actualmente cerca de € 30 nas livrarias. O elevado preço dos
livros em Portugal deve-se, já se sabe, ao autoritarismo
comercial das editoras. Embora eu tenha o volume único, gosto de pensar que
o facto de Salazar andar a ser distribuído,
em sete volumes, por via do jornal Expresso,
se deve ao bom senso e boa postura social do autor em dar a conhecer ao mundo,
e por muito baixo preço, o seu trabalho e a história do homem que nos governou
e que influenciou o mundo. Trata-se de um devaneio meu que pode nem
corresponder à verdade, traduzindo sim uma percepção subjectiva da realidade,
que eu tanto condeno nos outros, mas à qual não consegui resistir.
Por fim, um comentário relativamente a Salazar. Não obstante eu não concordar
com a sua política interna ou com a sua ideologia, sou admirador profundo da
sua política externa. Influenciou o final da guerra civil Espanhola (para bem
de Portugal), foi um dos pilares para que a Espanha não tivesse entrado em guerra,
vendeu volfrâmio a ambas as partes na guerra (e ambas as partes tinham
conhecimento), acordou ceder os Açores aos aliados (com o conhecimento da Alemanha),
comprava armas igualmente a ambas as partes (e ambas tinham igualmente conhecimento),
e livrou Portugal da guerra. Tudo com uma mestria que parece ter sido forjada na
casa dos deuses. O livro permite-nos admirar a política externa de Salazar e a
sua consideração como um dos maiores génios políticos na história da humanidade.
Recomendo vivamente a leitura de Salazar,
uma obra-prima.
Bruno Miguel dos Santos Carrilho Tabaio
02 de Setembro de 2014
02 de Setembro de 2014
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